Verdade oculta


   As mentiras que dizemos para proteger aqueles que amamos são, por vezes, ditas para nos protegermos do sofrimento dessas mesmas pessoas ou até ditas por não termos coragem de expor a verdade e, assim, mentimo-nos a nós e a elas, dizendo que foi tudo para seu bem. Porque mentir? Porque não apenas ocultar? Há quem diga que é o mesmo, mas nem sempre é. Ocultar algo para nos protegermos, prejudicando assim outras pessoas pode ser visto como mentir, mas será que se pode dizer o mesmo de ocultar algo que apenas prejudicará a pessoa que o oculta se se vier a saber? Estará correcto condenar alguém por guardar um segredo?

   A curiosidade e necessidade de obter respostas presente em cada um de nós nem sempre nos leva pelos melhores caminhos ou a boas descobertas. Há segredos que não devem ser revelados a nenhum indivíduo, muito menos ao mundo mas, mesmo assim, continuamos a procurar as respostas às nossas perguntas, muitas vezes, sem pensarmos naqueles que magoamos pelo caminho. Cegos pelas perguntas que nos atormentam e pelo instinto que nos compele a perseguir as respostas, como que enlouquecidos por uma fome que nos consome. E, quando finalmente obtemos as respostas que perseguíamos tão desesperadamente, por piores que sejam, por mais desapontados que estejamos, apresentamo-las ao mundo. Talvez porque não queremos que outros cometam os mesmos erros que nós, talvez porque lhes queremos poupar o trabalho de procurar… as razões que nos levam a fazê-lo são diferentes para cada um e para cada situação.
 
   Mas, por mais nobres ou maliciosas que sejam as nossas razões, como já mencionei anteriormente, há segredos que não devem ser revelados, verdades que não devem ser procuradas… Como seres dotados da capacidade de raciocinar, devemos conseguir lutar contra os nossos instintos e prever as consequências dos nossos actos. Nós temos de facto essa capacidade mas, infelizmente, muitos de nós não a usam.

   Quanto a mentir para proteger aqueles que amamos, a meu ver devemos dizer sempre a verdade, as mentiras descobrem-se mais cedo ou mais tarde e há vezes em que a desilusão é pior que a verdade, por isso mais vale dizer logo a verdade ou, simplesmente, dizer que não se quer falar no assunto. Acho que, pelo menos, lhes devemos uma verdade.

Equilibrium


   Todos os seres procuram obter aquilo que não têm ou que lhes é negado, sejam respostas, objectos, ou até a atenção e amor de outro ser. O que nos levará a fazer tal coisa? Talvez instinto ou talvez seja a necessidade de contrariar os outros, de quebrar os limites que nos são impostos, de provar que temos razão ou, simplesmente, pelo desafio. Saltamos de uma necessidade para a outra, de busca em busca perseguindo aquilo que queremos e deixando para trás o que já tínhamos, num ciclo interminável de demandas com o objectivo de saciar uma sede insaciável.

   Como há sempre algo novo, depressa nos fartamos do antigo e usado e assim, deixamo-lo para trás, num monte oblívio, e nunca chegamos a dar-lhe o seu devido valor. O que é engraçado é que mais depressa cai no esquecimento o que é bom do que o que é mau. Qualquer pessoa precisa de um equilíbrio interior, afinal, “o que é demais enjoa”, mas o que é certo é que as pessoas enfatizam mais a sua tristeza, angustia e dor do que a sua felicidade, não sei se é para assim aproveitarem melhor os momentos de felicidade ou se é por estarem habituadas a ter uma vida infeliz e miserável.

   Seja qual for a razão para tal acentuação da infelicidade pessoal, esse equilíbrio tem de ser mantido para assim evitar problemas do surto psicológico. Como deve ser de conhecimento de todos, a vida, no geral, é maioritariamente composta por momentos e emoções negativas e, por isso, é necessário libertarmo-nos de algumas dessas emoções para "equilibrar a balança". Para isso, é preciso pelo menos uma de duas coisas: alguém com quem desabafar ou um escape. Um escape é qualquer coisa que vos afaste os vossos problemas da cabeça. Há quem opte pelos vícios, coisa que, sinceramente, eu não aprovo pois acho que há formas muito mais construtivas e saudáveis de descontrair como por exemplo, escrita, trabalhos manuais, desporto ou até um passeio por um sítio agradável (isto, claro, falando apenas de actividades individuais).

   Todos temos os nossos altos e baixos, uma vida sem ambos não seria possível e mesmo que fosse temo que não seria aceite, por isso, temos que aprender a achar um equilíbrio, a lidar com os nossos problemas, a saber ultrapassa-los e saber aproveitar tudo o que a vida tem de bom. De vez em quando, parem e olhem à vossa volta, dêem um pouco de valor e atenção àquilo que têm. Se passarem a vida a correr atrás de uma coisa quando derem por vocês podem já ter perdido tudo aquilo que tinham, acabando, assim, sozinhos e infelizes e a única coisa que verão quando olharem para trás será uma vida de constantes e fúteis perseguições.